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sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Jean Paul Gaultier no Rio: estilista francês decreta o fim do do jeito esnobe de ser no mundo da moda

Estamos acompanhando todos os passos de Jean Paul Gaultier pelo Rio. Ele já esteve na quadra da Mangueira, com direito a altos papos com Alcione; depois foi prestigiar a Parada Gay, em Copacabana, pois é um grande ativista da luta contra o preconceito contra os gays e integrante de causas de amparo a portadores de Aids; esteve no lançamento do documentário ‘Jean-Paul Gaultier, quebrando as regras’, de Farida Khelfa, no Sesc Botafogo, e, na tarde de hoje deu uma palestra para alunos de moda, promovida por Paulo Borges  e FFW, no Espaço Tom Jobim, no Jardim Botânico. Jean Paul Gaultier pôs abaixo todo e qualquer resquício de esnobismo que permeia integrantes do mundo da moda e do showbiz: sem nenhum segurança entrou na sala reservada para sua palestra de camisa preta, calça branca com a barra dobrada e sapatos alvos. Se falasse longe do microfone, complicando a vida do tradutor simultâneo, pedia sinceras desculpas e, na hora de ir embora, tiraria todas as fotos que os admiradores pediam, se não precisasse sair correndo para outro compromisso da agenda cheíssima.


A elegância casual de Farida e Jean Paul Gaultier durante palestra no Espaço Tom Jobim
A idéia de falar para estudantes e profissionais de moda partiu do próprio estilista, que começou a trabalhar entre agulhas e linhas no ateliê de Pierre Cardin. “Não tive escola e tudo o que sei, aprendi trabalhando”, disse. A primeira coleção veio em 1976, aos 24 anos, e com dinheiro algum, mas criatividade de sobra. “Não tive medo de fazer desfiles pequenos e usar modelos que cobravam cachês mais baixos. Assumi as minhas fraquezas e as transformei em diferenciais. Vocês devem fazer o mesmo”, ensinou a plateia repleta de aprendizes de estilista.

Jean Paul falou por quase duas horas, entre um probleminha com o sistema de áudio e outro, mas sempre com a gentileza, educação e simpatia que muita gente precisa aprender. Dá uma olhada nos principais pontos da conversa.

> Bethy Lagardère 


Bethy Lagardère, amiga do estilista há 35 anos, fala sobre o prazer do estilista em falar aos jovens
Farida Khelfa bem ressaltou que Jean Paul é um apaixonado pelas mulheres e pelo universo delas e, ao falar sobre a mulher brasileira, o estilista se revelou encantado. “Vocês são magníficas! Ainda mais aqui no Rio! As cariocas têm uma relação com o corpo que as francesas não têm: vocês conhecem os seus corpos. A mulher brasileira é incrível e tenho um ótimo exemplo delas: a Bethy Lagardère! Uma mulher inteligente, sedutora, bela...”, disse, não economizando nos elogios à amiga.

> Farida Khelfa


Os alunos de moda viram a célebre foto de Farida na passarela de Gaultier
Quando viu Farida Khelfa pela primeira vez, Gaultier se encantou não só pela beleza da (então) modelo como por sua personalidade. E foi em um desfile seu que Farida se tornou a primeira modelo muçulmana contratada por uma marca francesa. A amizade de longa data já gerou até uma coleção inspirada em James Bond e na modelagem das peças usadas por Farida, claro. “Modelo não é cabide, é uma pessoa importante. Tanto que pode até ser a base de uma coleção”, ressaltou Gaultier. O mais novo fruto da parceria é o filme Jean Paul Gaultier, quebrando as regras,que estreou ontem no Festival de Cinema do Rio. “Não acho agradável ficar me olhando porque não sou o tipo de cara que gosto”, brincou Gaultier. “Mas adorei o filme e, assim que disse o sim espontâneo ao pedido de Farida sobre o documentário, sabia que só ela poderia retratar esse universo que ela conhecia tão bem. E também fiquei muito curioso para saber como ela me enxergava. Estou muito orgulhoso dela”, disse, fofo que só.

> Madonna


Foram dezenas de figurinos para Madonna, que imortalizou o célebre sutiã-cone
A rainha do pop e o estilista são quase sinônimos, de tão próxima que é a relação dos dois. Tanto que uma das peças mais icônicas da carreira de Jean Paul (e da história da moda) foi criada para Madonna e ganhou o mundo no corpo da diva durante sua turnê Blond Ambition: o corset com sutiã em formato de cone. Os espartilhos são um dos pilares da carreira do estilista e são influência direta de sua avó. “Ela era enfermeira e usava os corset por debaixo da roupa. Ela dizia que era um corretor de silhueta: afinava a cintura e deixava o busto reto. E minha avó tinha um truque para apertar o espartilho: tomava um copo de vinagre, que, por sua acidez, fazia o estômago se contrair. Essa era a hora de apertar bem as cordas”, contou.

Já os sutiãs-cone, tiveram um outro modelo antes de vestirem Madonna. “Eu tinha um urso de pelúcia e sempre brincava de vestí-lo. O primeiro protótipo dos sutiãs-cone, eu fiz nele com recortes de jornal. Ele sofria, tadinho”, lembrou Gaultier.

> Listras 


As famosas listras by Gaultier e os perfumes com a marca registrada do estilista
A estampa de listras é tão clássica na moda de Gaultier que, na exposição que o estilista ganhou em Montreal, no Canadá, existe uma seção dedicada inteiramente à elas. De onde vem a paixão pelo conjunto de linhas? Da infância. “Usava muitas roupas listradas na minha infância, por causa do uniforme dos marinheiros. E elas dão um efeito gráfico lindo às peças”, justificou.

> Figurino de filmes


Foram inúmeros figurinos para longas-metragens, incluindo 'O quinto elemento'
Gaultier já assinou o figurino de cinco filmes e só com Pedro Almodóvar trabalhou três vezes, inclusive no longa que está chegando aos cinemas agora, A pele que habito. Outro trabalho que todo mundo lembra foi o que fez em O quinto elemento, de Luc Bresson. “É uma grande sorte poder trabalhar com o Almodóvar. Gosto de fazer figurinos porque é um pouco do Gaultier adaptado à uma história. Aliás, assistam A pele que habito que está estreando agora. É ótimo”, disse. E nós vamos seguir a dica, é claro.


Democracia na moda: para todos, sempre!
colunaheloisatolipan@gmail.com

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